Algumas pessoas têm me perguntado sobre como trabalho quando atendo a casais e famílias. Segue abaixo um breve resumo da Abordagem Sistêmica e da Terapia Focada nas Emoções (EFT), que são as que adoto nesses casos, e um pouco do que acontece na terapia em si.
Por Abordagem Sistêmica compreende-se aquela em que o enfoque principal está na compreensão das interações humanas, de forma que os problemas são vistos mais como um resultado dessas interações do que como uma característica particular de um indivíduo, ou seja, em uma família os relacionamentos são considerados como um fator determinante para a saúde mental. Isso não quer dizer que as questões individuais intrapsíquicas sejam excluídas, mas que a família tende a funcionar como um sistema aberto e total, dentro do qual as ações de seus membros influenciam e são influenciadas por todos os outros, inclusive por sistemas extrafamiliares. Tal visão põe a família sob a perspectiva de um sistema no interior do qual problemas e soluções ocorrem como a expressão de padrões de interação, sejam esses adequados ou inadequados. O ser humano é, desta forma, sempre referido por um sistema. E os sistemas não podem ser compreendidos plenamente apenas pela análise separada e exclusiva de cada uma de suas partes, mas sim a partir da compreensão da dependência recíproca de todas as suas disciplinas, bem como da sua necessidade de integração. As pessoas estão inseridas em vários contextos – familiar, social, escolar, comunitário, que se envolvem mutuamente formando um sistema que se inter-relaciona. Mesmo no caso da terapia individual, mantém-se a ideia básica de compreender a pessoa no seu entorno, ou seja, no contexto de sistema do qual faz parte.
Já a EFT é uma abordagem humanística, desenvolvida nos anos 80, baseada na Teoria do Apego aplicada a adultos, uma teoria incrível sobre personalidade e relações íntimas. O apego vê as pessoas como relacionais, sociais e desejosas de conexão íntima com as outras, de forma inata. A abordagem EFT prioriza a emoção e a sua regulação como as chaves para organizar a experiência individual e as interações em relacionamentos fundamentais para nossas vidas. EFT operacionaliza os princípios da ciência do apego usando as técnicas experienciais não patologizantes (Carl Rogers) e dos sistemas relacionais (Salvador Minuchin), visando a focar e mudar os principais fatores de organização do self e dos relacionamentos chave.
O processo terapêutico tem, assim, o objetivo de modificar o padrão de relacionamento intra ou extra familiar e é realizado através da reflexão sobre as questões individuais e os processos de convivência familiar, com o cônjuge ou outros subsistemas. As técnicas utilizadas são principalmente focadas no presente, a partir de uma compreensão do passado (histórias de vida pessoal, da família e suas relações) e suas repercussões nos dias atuais. É importante ressaltar que toda mudança requer reconhecimento do que precisa ser mudado pelas pessoas envolvidas, além de decisões firmes e participação ativa de todos.
Terapia de Casal
A terapia de casal pode ser útil para várias questões, tais como algumas citadas a seguir, dentre outras.
- Casais com muito ou pouco tempo de casados, que se dão conta de que a vida conjugal está ficando difícil ou confusa, de forma que cada um possa compreender suas próprias necessidades e as de seu cônjuge e chegar a acordos sobre como viver juntos;
- Aprender novas formas de expressão de sentimentos, emoções, desejos, objetivando mudar padrões de relação disfuncionais;
- Desenvolver habilidades de comunicação e resolução de conflitos;
- Aumentar a capacidade de lidar com as mudanças e crises no ciclo de vida do casal e da família;
- Exercitar a prática de condutas mutuamente gratificantes.
Terapia Familiar
A terapia familiar é um diálogo que se constrói e se desenvolve ao longo do tempo entre o terapeuta e a família que está enfrentando alguma dificuldade, com o objetivo de usar a crise como uma oportunidade de desenvolvimento de seus membros. A ideia é que a família saia fortalecida, de forma que possa crescer e encontrar o rumo que perdeu em sua história. A família deve participar ativamente da resolução dos problemas, sem buscar culpados, e o terapeuta procura suscitar situações que favoreçam a mudança. Como cada família possui uma dinâmica diferente, o processo terapêutico pode ocorrer de formas distintas. Em alguns casos as sessões podem ser com todos os membros da família que vivem juntos, de forma que cada um possa comentar sobre como veem o que estão vivendo, ao mesmo tempo que ouvem os demais e, a partir daí, soluções possam surgir. Em outros casos, por exemplo, há a possibilidade de fazer sessões só com os pais, só com os irmãos, só avós e netos, dentre outras configurações, e até incluir pessoas que, embora não pertençam à família, possuam uma relação significativa com ela.